Hoje é dia de resgatar o Brasil com Chico Buarque de Hollanda
Nas últimas manifestações verde-e-amarelas fascistas (sim, já não cabe mais à imprensa séria nem a ninguém fingir que elas eram a favor da "reforma da previdência" e do "pacote anti-crime" propostos respectivamente pelos ministros Paulo Guedes e Sergio Moro: elas desferiram ataques violentos os ministros do STF, ao presidente da Câmara dos Deputados e reivindicaram o fechamento de ambas instituições), nessas últimas expressões de analfabetismo e violência políticos, uma turba em Curitiba arrancou, da fachada de um prédio da Universidade Federal, uma faixa em que estava escrito "Em defesa da Educação". Este ato resume o espírito dessas manifestações bem como do governo que elas defendem.
Bolsonaro e seus filhos (um deles, o senador Flávio, no centro de um escândalo de corrupção cuja investigação rigorosa ele tenta deter, sob o silêncio cínico e cúmplice do ministro da Justiça, Sérgio Moro), este, o chanceler Ernesto Araújo, para quem o aquecimento global se deve ao fato de asfalto esquentar demais sob o sol, o chefe da casa civil, Onyx Lorenzoni, o advogado-geral da União, André Luiz Mendonça, e, principalmente, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, estão deliberadamente empenhados não só em destruir o ensino superior público, mas, sobretudo, em humilhar os professores universitários, intelectuais de verdade e escritores de prestígio que atuam nas instituições de ensino superior e pesquisas científicas. Este empenho é um inegável sintoma não só de uma política fascista, mas de neuroses pessoais de gente invejosa por não estar nem poder estar à altura e nem poder ser igual àqueles que deseja destruir.
Em comum a todos esses pústulas do governo Bolsonaro e aos que se fantasiaram de verde-e-amarelo e foram às ruas em defesa deles, a prática do assassinato da norma da língua portuguesa. Não que eu seja normativo, mas o mínimo que esperamos de supostos representantes responsáveis pelas políticas públicas de produção e reprodução dos diferentes conhecimentos para as novas gerações é o domínio da norma da língua. Mas "conje", "Kafta", "dejeito", entre outros exemplos, estão aí para nos mostrar que eles são os reflexos dos que, nas ruas, insultam Paulo Freire – considerado um dos maiores especialistas em educação no mundo – e exaltam uma fraude chamada Olavo de Carvalho.
Quem pode nos resgatar desse naufrágio político-ético-cultural? Chico Buarque! Sim, como disse Caetano Veloso em sua ode à Língua Portuguesa, que Chico Buarque de Hollanda nos resgate e dê um xeque-mate nessa gente ignorante, incompetente e má.
E Chico Buarque já moveu as peças do tabuleiro cultural nesse sentido, e justamente a partir do trabalho com a Língua Portuguesa. Ele ganhou o Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra literária, incluídos aí as letras de música, os romances e peças de teatro.
Não há prêmio mais justo, quase uma justiça divina, para quem realmente acredita que existem deuses.
Transformado da noite para o dia em pária por meio de fake news, divulgadas criminosa e massivamente por organizações como MBL e Vem Pra Rua, e insultado em restaurantes por essa gente que se veste de verde e amarelo para exaltar torturadores e milicianos e pedir a volta de uma ditadura, Chico Buarque tem seu verdadeiro lugar reconhecido por um prêmio internacionalmente prestigiado e que abrange todos os países lusófonos. O Prêmio Camões é, ao mesmo tempo, um resgate do que temos de melhor em nossa identidade nacional e uma reparação a um mal praticado contra um gênio por medíocres que hoje estão no poder e lhe invejam profundamente.
Ao saber que Chico Buarque ganhou o Prêmio Camões, o astrólogo ruim da Virgínia – psicopata que sequer domina a norma da Língua Portuguesa e que jamais leu, de fato, qualquer dos verdadeiros filósofos que ele ofende em seu proselitismo para idiotas e analfabetos políticos via Youtube – fez um trocadilho digno de Danilo Gentilli, o mau palhaço que virou palhaço do mal e que foi desmascarado recentemente em sua profunda ignorância sobre Paulo Freire: "Chico Buarque vai receber o prêmio Camões casmão". Pura inveja.
O prêmio é um tapa na cara dos maus-carácteres de todos os níveis que espalharam a mentira de que Chico Buarque havia plagiado letras de outros autores (uma deturpação criminosa de uma piada que o escritor fez consigo mesmo num documentário que estava à disposição de todos que tiveram acesso apenas à edição criminosa espalhada via WhatsApp). Aliás, assim se faz uma fake news: fragmentos da verdade reaproveitados em narrativas sob medida para quem tem preconceitos e ressentimentos em relação ao alvo da notícia falsa. De artista que jamais usou leis de incentivo para seus shows, Chico virou o ladrão que roubava por meio da lei Rouanet.
O Prêmio Camões reabilita Chico justamente quando todo seu repertório antifascista e feito criativamente para despistar os estúpidos censores da ditadura militar volta a fazer sentido e ser entoado nas grandes manifestações em defesa da educação e dos direitos em todo país!
Aliás, hoje é dia de novas manifestações pelos Direitos Já, contrárias em todos os sentidos à patriotada ignorante do último domingo. Maiores que esta em todos os sentidos também.
Hoje é dia de entoar, a plenos pulmões, "Apesar de você" e "Cálice", de Chico Buarque, nas ruas.
Vamos fazer a mudança! Como diz o poema de Luís de Camões, o poeta que dá nome ao prêmio que Chico recebeu, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades".
Os tempos vão mudar. A educação vai se salvar. E daqui, do exílio, eu canto "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim: "Sei que ainda vou voltar para o meu lugar"!