Shakespeare, Freud e Lacan ajudam a entender a tragédia Bolsonaro
Carluxo é o grande e maior vilão dessa tragédia chamada "Governo da família Bolsonaro". Refiro-me a tragédia no sentido teatral do termo (história que conduz inevitavelmente a um acontecimento funesto, ou, permitam-me a redundância, trágico, mas também no sentido de catástrofe, mais usado pelo senso comum). E, para entender essa tragédia tupiniquim, nada melhor do que recorrer às celebridades da cultura ocidental que se dedicaram ao gênero, seja criando-as, seja filosofando a partir delas (alguns me diriam que se trata, na verdade, de uma tragicomédia, se pensarmos, por exemplo, no vídeo em que o presidente da república aparece ao lado de seu ministro da Educação comendo os chocolates que este acabara de usar para fazer uma matemática estapafúrdia, em que 30% de 100 é 3,5).
Pensemos então nas tragédias do inglês William Shakespeare. Carluxo seria a pior das três filhas do "Rei Lear": Regan. Nesta tragédia, inspirado em antigas lendas britânicas, Lear enlouquece após ser traído por duas de suas três filhas, às quais havia legado seu reino de maneira imprudente.
Shakespeare antecipou o caráter de Carluxo séculos atrás ao criar também Iago, de "Otelo". Invejoso, cheio de vergonha de si (homofobia internalizada fruto da repressão paterna desde a infância), buscando – numa ambiguidade de sentimentos já descrita por Freud e, depois, Lacan como característica do típico perverso – ao mesmo tempo, agradar e superar o pai, Carluxo, como os vilões das tragédias gregas e shakespearianas, não consegue fugir de seu destino trágico de produzir uma desgraça, a desgraça. Este fato, aliás, agrada-me: Carluxo já é e será mais ainda a ruína do governo Bolsonaro, já assombrado pelo poderoso espectro de Marielle Franco – como o espectro do pai de Hamlet assombrava o rei e a rainha conspiradores; como o espectro do comunismo que assombrava a Europa injusta e desigual do século XIX (como o é a Europa do século XXI, esse mero jogo de posições de algarismos romanos) – Marielle Franco, cujos assassinos têm ligações ainda não esclarecidas com a família do presidente.
Carluxo e seu mentor ardiloso, o astrólogo da Virgínia, estão atacando e difamando os militares que constituem o governo de seu pai, acusando-os de traição. Sim, o filho do presidente da república e seu guru pérfido (este responsável também pela indicação do Ministro das Relações Exteriores, que acredita que a terra é plana e que o nazismo foi um regime de esquerda) estão brincando com o destino de um país com mais de 200 milhões de habitantes e cujo PIB é de 1,8 trilhão de dólares.
Antes, Carluxo desdenhou de Rodrigo Maia; atacou sua honra ao levantar suspeitas sobre sua honestidade; afrontou publicamente o presidente da Câmara, ao apoiar o narcisista menor e desqualificado Sérgio Moro, espécie de Macbeth vulgar e subjetivamente muito mais raso, mas dirigido por um arremedo de Lady Macbeth ressentida e cafona; Carluxo fez tudo isso mesmo sabendo que a aprovação da Reforma da Previdência (leia-se: fim da aposentadoria dos trabalhadores, e manutenção dos privilégios para os mais ricos) – única agenda que ainda mantém seu pai louco e doente no palácio do Planalto – depende de Rodrigo Maia e mais ninguém. Maia é o oficial pragmático, mas temperamental. Não tolera a ingratidão tampouco o veneno de Carluxo. Este é, portanto, um vilão odioso e capaz de atrocidades, mas burro. Ao fim dessa tragédia tupiniquim, Carluxo terá sua punição (assim como seu pai e seus irmãos). E não se espantem se esta punição vier não das mãos da Justiça humana, mas das mãos do amante posto na sombra.
Carluxo não vai fazer ideia das referências contidas nesse texto. Carluxo, seus irmãos e seu pai desprezam e detestam a cultura. Por isso são tão torpes.